Falar sobre questões raciais é um assunto delicado, porém fundamental para quebrar o preconceito e o racismo presentes no mundo inteiro. De acordo com o IBGE, a porcentagem de pessoas negras no Brasil é de 54% da população total.
No entanto, mesmo sendo maioria numérica, a população negra no Brasil é considerada uma minoria social. Desse modo, ainda há muito a ser feito pela igualdade racial. Afinal de contas, somos um país com 522 anos de história que está livre da escravidão há apenas 134.
Sendo assim, com o intuito de traçar um retrato sobre a população negra brasileira, o Opinion Box se juntou ao Movimento Black Money para realizar uma pesquisa inédita: o Relatório Pessoas Negras no Brasil.
Dessa forma, por meio dos dados, esperamos levantar questões importantes sobre problemas sofridos pelas pessoas negras no Brasil, mas também trazer luz a outros temas.
O racismo no Brasil
Diariamente, pessoas pretas e pardas enfrentam o racismo velado e a discriminação racial manifestada em diversas formas.
Atualmente, 60% das pessoas encarceradas no Brasil são negras. Entre os 10 milhões de jovens que abandonaram a escola durante a educação básica, 72% são negros.
Diante dessa realidade, não surpreende que a avaliação sobre ser uma pessoa negra no Brasil seja negativa. Nesse sentido, 60% dos entrevistados afirmam que, de forma geral, ser negro no Brasil é difícil ou muito difícil. Além disso, 83% acreditam que a sociedade diferencia o tratamento dado para pessoas negras e brancas.
O que as pessoas negras experienciam de dificuldade, normalmente, é impensável para quem não sofre com o racismo.
Dessa maneira, a discriminação afeta os mais diversos âmbitos da vida das pessoas, desde o acesso a educação e emprego até a própria segurança pessoal, visto que 70% de pessoas negras que apontaram a abordagem policial como uma realidade frequente e, por vezes, violenta.
O dia da consciência negra
O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil em 20 de Novembro. Instituído pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como é oficialmente chamado, remete ao dia em que Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi morto, em 1695.
Dessa forma, a data não apenas valoriza um símbolo da luta contra a escravidão no Brasil, mas também tem como objetivo chamar atenção para questões raciais que ainda precisam ser pauta atualmente, como o enfrentamento ao racismo e à discriminação que pessoas negras ainda sofrem diariamente, por exemplo.
Nesse sentido, de acordo com a pesquisa, de forma geral, 65% consideram o Dia da Consciência Negra muito importante. No entanto, essa proporção varia para 70% entre as pessoas negras e 60% entre pessoas não-negras.
Agressões, ameaças e assédio contra pessoas negras no Brasil
Infelizmente ainda vemos com frequência notícias de pessoas negras que já sofreram algum tipo de agressão, ameaça ou assédio no Brasil por questões raciais.
Para aprofundar no assunto, fizemos perguntas relacionadas ao tema para pessoas que se autodenominam pretas ou pardas.
Dessa forma, de acordo com a pesquisa, 32% evitam certos lugares ou locais por medo de agressões, ameaças ou assédio em razão de suas cores, raças ou etnias. Entre as mulheres, chega a 35% o percentual de quem evita certos lugares. Os homens são 29%.
Outro dado bastante assustador é que 33% já sofreram algum tipo de agressão, ameaça ou assédio verbal em razão de suas cores, raças ou etnias.
Sob o mesmo ponto de vista, entre essas pessoas, 51% afirmaram que essa agressão aconteceu em uma rua, praça, estacionamento ou outro local público, 38%, no transporte público e 36%, na escola, curso ou universidade.
A grande quantidade de pessoas que já sofreram algum tipo de violência racial em locais públicos chama a atenção para a falta de impunidade que acontece muitas vezes com o crime de racismo no Brasil.
Representatividade negra no Brasil
A representatividade de pessoas e grupos é uma pauta fundamental para reduzir desigualdades e trazer à tona questões importantes para essas comunidades.
Sendo assim, no caso das pessoas negras, isso não é diferente. Colocar pessoas negras em posição de destaque é uma forma de dar visibilidade não só às pautas que elas carregam consigo, mas também empoderar indivíduos que, normalmente, encontram maiores dificuldades para serem reconhecidos em suas áreas de atuação.
Assim, perguntamos aos entrevistados: “considerando os últimos 5 anos, o quanto você acha que as pessoas negras estão sendo representadas em diversas áreas?”
Entre as pessoas negras que responderam à pesquisa, 64% acham que as pessoas negras estão sendo mais representadas na música, 62% nos filmes e séries e 59% no jornalismo, esportes e influenciadores digitais.
Black Money
O Movimento Black Money possui o objetivo de promover o empoderamento financeiro de pessoas pretas para reduzir as desigualdades.
Com a meta de mudar a realidade de desigualdade racial no país e ressignificar a forma como as pessoas negras gastam seu dinheiro e o poder de transformação social que elas têm ao comprar e consumir de negócios de pessoas negras, o Black Money conta com um conceito bem simples: realocar a concentração de renda e diminuir as desigualdades.
Dessa maneira, 56% das pessoas preferem comprar em empresas que apoiam a diversidade racial.
Ainda assim, para as marcas, lideradas por pessoas negras ou não, fica um alerta importante por parte dos consumidores. Não adianta se posicionar em relação a pautas raciais e não realizar ações que comprovem esse posicionamento.
Nesse sentido, 1 em cada 3 pessoas negras já percebeu que, na prática, algumas empresas se utilizam de questões raciais apenas para lucrar.
Pessoas Negras no Brasil: sobre a pesquisa
Para realizar o Relatório Pessoas Negras no Brasil, entrevistamos 2.133 pessoas que fazem parte do Painel de Consumidores do Opinion Box em setembro de 2022. A margem de erro é de 2,1pp.
O compartilhamento dos dados e análises contidos nesta pesquisa são permitidos tanto em documentos públicos quanto privados, desde que acompanhados do devido crédito à fonte: Opinion Box e Movimento Black Money: Relatório Pessoas Negras no Brasil.
Acesse agora o relatório gratuito na íntegra: