136 anos. Esse é o tempo necessário para que a igualdade de gêneros finalmente seja alcançada no meio corporativo. O triste e preocupante número foi revelado pelo último relatório do Fórum Econômico Mundial. Um exemplo claro que mostra essa desigualdade é a disparidade que existe entre liderança feminina e masculina.
Sabemos que não podemos esperar todo esse tempo para que essa tão sonhada igualdade de gêneros no trabalho aconteça. A mudança deve começar agora. E para qualquer tipo de mudança, os dados são ferramentas de apoio essenciais.
Sendo assim, considerando essa urgência de mudança, o Opinion Box elaborou em parceria com a StartSe um panorama com o maior estudo sobre liderança feminina já feito no Brasil.
A pesquisa revelou dados surpreendentes sobre as percepções das lideranças femininas no meio corporativo. Confira a seguir a importância de debater esse assunto e os principais insights desse estudo exclusivo.
Qual a importância da igualdade de gênero e lideranças femininas nas empresas?
Além do princípio primordial de que qualquer tipo de desigualdade traz prejuízos para a sociedade como um todo, existem diversos aspectos em que a desigualdade de gênero no ambiente de trabalho afeta a vida das pessoas e as condições das empresas.
Em primeiro lugar, foi-se o tempo em que as famílias eram sustentadas pelos homens. De acordo com o IPEA, a porcentagem de lares comandados por mulheres brasileiras saltou de 25%, em 1995, para 45%, em 2018. Estamos falando de quase metade dos lares brasileiros sustentados por mulheres.
No entanto, por que não vemos esse crescimento acompanhando a igualdade entre homens e mulheres no ambiente corporativo?
Além disso, as empresas também sairiam ganhando com a equidade de gêneros e o crescimento da liderança feminina. Segundo o estudo “Diversity Matters”, empresas que possuem lideranças femininas equilibradas com lideranças masculinas possuem 14% de chances de obter uma performance superior à concorrência.
A mudança começa agora
Apesar da estimativa de 136 anos ser desanimadora, a boa notícia é que é possível reduzir esse tempo. Como dito anteriormente, o primeiro passo para que isso ocorra parte dos dados.
Apesar da diferença discrepante na igualdade de gênero nas empresas, o movimento feminista vem ganhando cada vez mais força nas últimas décadas. Nesse sentido, podemos perceber um crescimento gradual no movimento das empresas para contratarem líderes mulheres. Um exemplo disso é a interessante promessa do Nubank, que se comprometeu em ter 50% da liderança formada por mulheres até o ano de 2025.
A partir disso, cresce também a esperança e as expectativas das mulheres para a igualdade de gênero nas empresas. De acordo com uma pesquisa feita pelo Opinion Box, 64% das mulheres acreditam que a situação das mulheres no meio corporativo irá melhorar.
De acordo com Paloma Tocci, Jornalista e apresentadora do Grupo Bandeirantes, “A mulher conquistou já muitos espaços, quebrou muitas barreiras, mas ainda é algo que a gente precisa construir e quebrar mais amarras. Ainda existe o machismo.”
Barreiras mentais nas lideranças femininas
O panorama “Liderança Feminina: a visão delas sobre os desafios de gestão” partiu do objetivo de entender quais são as principais barreiras que as mulheres enfrentam em suas jornadas para alcançar os objetivos profissionais.
Nesse sentido, analisamos 15 barreiras mentais que as mulheres em cargos de liderança enfrentam, entendendo o peso de cada uma delas para o desenvolvimento de suas carreiras.
Entre elas, as que mais chamam a atenção são o medo de falar sobre as conquistas, no qual 52% das líderes afirmaram ter esse medo por parecerem vaidosas e orgulhosas demais, e o fato de terem que lidar com o estereótipo de que as mulheres são demasiadamente emocionais: 46% das lideranças femininas consideram isso como um desafio recorrente.
Além disso, outra barreira mental que chamou bastante a atenção foi que 43% frequentemente têm que lidar com o receio de falhar em situações ou missões importantes.
Todas essas barreiras apresentadas são reflexo de inseguranças proporcionadas pelo desafio de ser uma líder em um ambiente majoritariamente composto por homens.
Uma consequência dessa insegurança é a Síndrome da Impostora, nomenclatura utilizada para definir o ato de uma pessoa acreditar que não é tão capaz quanto o esperado, e que em qualquer momento descobrirão que ela é uma fraude.
De acordo com Érica Firmo, Gerente de Comunicação Corporativa e Reputação para Asia, Europa e América Latina no Linkedin, “não importa o tanto que eu já fiz, o que eu já aprendi, o tanto que eu já cresci. A minha impostora está sempre presente no dia a dia, e às vezes ela consegue falar mais alto do que os meus pensamentos”.
De acordo com uma pesquisa feita pela KPMG, 56% das mulheres passaram pela síndrome quando assumiram um novo papel de liderança nas empresas.
Desafios no plano de carreira para a liderança feminina
Também foi analisado no panorama sobre liderança feminina quais são os principais desafios encontrados pelas lideranças femininas quando o assunto é planejamento de carreira.
Nesse sentido, o que mais chamou a atenção foi o fato de que quase 1 entre 3 mulheres têm clareza sobre os seus objetivos de carreira. No entanto, ainda não sabem o que devem fazer para alcançá-los.
De acordo com Dani Schermann, Head de Marketing daqui do Opinion Box, “Incentivar as mulheres ao nosso redor a falar sobre os objetivos e traçar planos para isso é um importante agente de mudanças para que nós mulheres possamos garantir o futuro profissional que quisermos.”
Além disso, todas as etapas do plano de carreira apresentam desafios significativos para as lideranças femininas. O que mais se destacou entre eles foi a dificuldade encontrada em traçar metas de carreira de curto, médio e longo prazo: 61% das líderes enfrentam esse desafio.
Outro desafio que chamou a atenção foi estipular o prazo necessário para atingir as metas: 56% das lideranças femininas passam por essa dificuldade. Além disso, 55% das líderes enfrentam o desafio de definir seus objetivos de carreira.
Liderança feminina: Habilidades importantes
Também foi investigado no estudo quais são as habilidades que as lideranças femininas entendem como as mais importantes para suas carreiras vs o quanto elas dominam essas skills.
Nesse sentido, as habilidades que envolvem o conhecimento em novas tecnologias são aquelas que enfrentam as maiores discrepâncias na relação entre relevância e domínio da habilidade: enquanto 74% consideram-a importante, apenas 48% têm domínio sobre ela.
Além disso, outra habilidade que chamou a atenção na disparidade entre importância e conhecimento técnico foi o conhecimento mercadológico. Enquanto 75% das líderes consideram essa como uma habilidade importante, somente 53% possuem domínio sobre ela.
No entanto, na capacidade para resolver problemas, a disparidade diminui: 90% consideram essa habilidade importante e 82% possuem domínio sobre ela, demonstrando um equilíbrio maior.
Percebe-se que em algumas habilidades onde existe uma disparidade maior entre conhecimento e domínio, as empresas podem ajudar a diminuir essa disparidade. Essa ajuda pode acontecer por meio do suporte com cursos e treinamentos. Além disso, a insegurança também pode influenciar em algumas categorias, como networking e inteligência emocional.
E como anda o suporte das empresas?
E por falar em suporte das empresas, essa foi uma outra ótica analisada durante o estudo. Um dos dados que mais chamou a atenção foi que mais da metade das líderes acreditam que suas empresas oferecem suporte e condições para o crescimento profissional das mulheres.
No entanto, ainda existe uma grande divergência de opiniões entre as mulheres que lideram equipes menores e aquelas que lideram equipes maiores nas empresas. Nesse sentido, enquanto 73% das líderes de equipes com mais de 10 pessoas acreditam que as empresas oferecem esse suporte, essa proporção cai para 53% entre as líderes de equipes menores, com menos de 10 pessoas.
Além disso, quando o assunto é o equilíbrio entre homens e mulheres em cargos de liderança, os dados chamam a atenção, principalmente em empresas maiores. Somente 25% das líderes em empresas menores (10 a 99 funcionários) afirmaram que existem mais mulheres do que homens nos cargos de liderança. No entanto, esse número é ainda menor em empresas maiores (mais de 100 funcionários). Somente 15% dessas empresas possuem mais líderes mulheres atuando.
Liderança Feminina: sobre a pesquisa
Para realizar o Panorama Liderança Feminina: a visão delas sobre os desafios de gestão, foram entrevistadas 783 mulheres em todo o país que trabalham em empresas ou são donas do próprio negócio com mais de 10 funcionários e lideram uma pessoa ou mais na empresa que trabalham. A pesquisa respeitou as proporções de idade, faixa de renda e distribuição geográfica desse grupo.
As entrevistadas fazem parte do Painel de Consumidores do Opinion Box. A pesquisa foi feita entre 29 de julho e 9 de agosto de 2021. A margem de erro da pesquisa é de 3,5 pp.
Caso você queira acessar o estudo completo, basta fazer o download gratuito do relatório sobre a liderança feminina.